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Continuar lendoA permeabilidade intestinal é uma característica das membranas do trato intestinal que permitir a passagem controlada de diferentes macromoléculas (1).
Essa barreira intestinal é composta por dois sistemas integrados: uma barreira física externa e uma barreira funcional interna, que inclui a imunológica.
A barreira imunológica, formada pela mucosa intestinal, atua para manter uma simbiose benéfica entre o organismo e os microrganismos intestinais, evitando inflamação crônica e respostas excessivas à patógenos.
A interação entre as barreiras física e imunológica contribui para o equilíbrio adequado da permeabilidade do intestino. Em geral, o epitélio intestinal bloqueia a passagem de macromoléculas, produtos bacterianos e antígenos alimentares, permitindo apenas uma pequena quantidade através das junções estreitas.
No entanto, em indivíduos geneticamente predispostos, a passagem de substâncias pelo epitélio pode gerar uma resposta imune exagerada, liberando citocinas como IL-13, TNF e IFN-γ. Esse aumento na permeabilidade das junções estreitas facilita a passagem de mais macromoléculas do lúmen intestinal, promovendo uma ativação imune ainda maior (2).
A regulação insuficiente dessa resposta e o aumento das citocinas podem estar associados a diversas doenças, como veremos a seguir.
A permeabilidade intestinal se refere, portanto, à capacidade funcional da barreira intestinal, que pode ser medida por análises da taxa de fluxo ao longo da parede intestinal ou através da absorção de substâncias inertes.
Comumente, a permeabilidade é avaliada pela excreção urinária de sondas inertes ingeridas por via oral. Essas sondas atravessam o epitélio pela via paracelular, entram na corrente sanguínea, são filtradas pelo glomérulo e, então, excretadas na urina.
As sondas ideais para essa avaliação não devem ser metabolizadas no lúmen intestinal nem no sangue, devem ser facilmente filtradas pelos rins e não devem ser absorvidas ou secretadas ativamente pelos túbulos renais. Dessa forma, a excreção urinária fracionada das sondas serve como uma medida indireta da permeabilidade intestinal.
Assim, a permeabilidade intestinal normal é definida como aquela que ocorre em indivíduos saudáveis, sem sinais de inflamação, intoxicação ou comprometimento da função intestinal.
Diversos fatores podem alterar a permeabilidade intestinal, como:
Os efeitos da dieta na permeabilidade intestinal variam conforme fatores individuais, como a suscetibilidade genética do indivíduo e a composição da microbiota intestinal (3).
Certos componentes da dieta podem aumentar a permeabilidade intestinal por meio da modulação da microbiota. Por exemplo, dietas ricas em gorduras (HFD) podem promover alterações metabólicas que afetam a função da barreira intestinal (4).
Uma dieta com baixo teor de vitamina A pode provocar alterações nas bactérias comensais, comprometendo a barreira intestinal e alterando a produção de mucina e a expressão de moléculas de defesa (5).
Estudos com crianças com deficiência subclínica de vitamina A demonstraram que níveis mais baixos de retinol sérico estão inversamente correlacionados com a permeabilidade intestinal (6).
A vitamina D também desempenha um papel importante na saúde da barreira intestinal. Estudos com camundongos mostraram que a deficiência de vitamina D pode enfraquecer a mucosa intestinal, aumentando a suscetibilidade a danos e elevando o risco de doenças intestinais (7).
Estes ácidos orgânicos incluem o acetato, propionato, butirato e valerato, são produzidos por fermentação microbiana de carboidratos não digeridos no cólon. O butirato, em particular, é fundamental para a manutenção da barreira intestinal, no qual sua deficiência provoca lesões na junção estreita, aumentando a permeabilidade intestinal (8).
Dietas típicas ocidentais, ricas em energia e gordura, têm sido associadas ao aumento da permeabilidade intestinal, levando à endotoxemia metabólica, uma condição causada pela absorção de LPS, componente da membrana de bactérias gram-negativas (9).
Além de produzir ácidos graxos de cadeia curta por fermentação, os prebióticos ajudam a estabilizar a barreira intestinal. Um estudo recente mostrou que fruto-oligossacarídeos (FOS) podem reduzir a esteatose hepática, possivelmente ao modular a microbiota intestinal e a função da barreira intestinal (10).
Estudos indicam que o uso de bactérias comensais e probióticos pode promover a integridade da barreira intestinal in vivo.
Foi demonstrado que a disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota intestinal) pode comprometer a barreira intestinal, levando a disfunções e a doenças crônicas, como na síndrome do intestino irritável (11). Uma das formas de analisar os microrganismos que compõem o ecossistema intestinal é por meio do sequenciamento completo do genoma microbiano (shotgun metagenômico) no exame MyBiome.
Alterações na permeabilidade intestinal e a translocação de bactérias para fora do intestino podem desencadear doenças metabólicas. Assim, acredita-se que ajustes na microbiota por meio de alimentos prebióticos ou probióticos possam ser uma abordagem terapêutica promissora para doenças relacionadas à barreira intestinal (12). Aqui em nosso blog já abordamos a importância da microbiota intestinal para a manutenção da saúde.
O aumento da permeabilidade intestinal está presente em diversas condições clínicas intestinais e sistêmicas, como: (13)
Os efeitos da permeabilidade intestinal aumentada incluem:
Já a diminuição da permeabilidade intestinal pode resultar em má absorção e desnutrição, mesmo com uma dieta normal (em relação a qualidade ou quantidade), comumente como consequência de lesões do epitélio intestinal que afetam a absorção transcelular de nutrientes.
O exame de permeabilidade intestinal é um método não invasivo de avaliação da integridade e funcionalidade da mucosa intestinal, que possibilita o auxílio no diagnóstico das causas de sintomas intestinais e sistêmicas, além de fornecer informação sobre a resposta terapêutica e acompanhamento clínico (marcador de atividade e prognóstico).
A análise consiste na administração de duas substâncias não metabolizáveis (lactulose e manitol) que apresentam peso molecular diferente, em concentrações previamente determinadas. O resultado é apresentado com base na quantificação da porcentagem de eliminação de ambas as substâncias, sendo essa correlacionada com a porcentagem de absorção.
Para realizar o exame faz-se necessário 8 horas de jejum prévio.
O exame de permeabilidade intestinal é indicado para:
A identificação de uma alteração da permeabilidade intestinal possibilita a atuação terapêutica de forma específica, com a consequente melhora dos sintomas de permeabilidade intestinal em uma porcentagem elevada de pacientes.
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(1) Odenwald MA, Turner JR. Intestinal permeability defects: is it time to treat? Clin Gastroenterol Hepatol. 2013 Sep;11(9):1075-83. doi: 10.1016/j.cgh.2013.07.001.
(2) Clayburgh DR, Barrett TA, Tang Y, Meddings JB, Van Eldik LJ, Watterson DM, Clarke LL, et al. Epithelial myosin light chain kinase-dependent barrier dysfunction mediates T cell activation-induced diarrhea in vivo. J Clin Invest. 2005 Oct;115(10):2702-15.
(3) Moreira APB, Texeira TFS, Ferreira AB, Peluzio MCG, Alfenas RCG. Influence of a high-fat diet on gut microbiota, intestinal permeability and metabolic endotoxaemia. Br J Nutr. 2012 Sep;108(5):801-9.
(4) Serino M, Luche E, Gres S, Baylac A, Bergé M, Cenac C, Waget A. Metabolic adaptation to a high-fat diet is associated with a change in the gut microbiota. Gut. 2012:61(4):543-53.
(5) Amit-Romach E, Uni Z, Cheled S, Berkovich Z, Reifen R. Bacterial population and innate immunity-related genes in rat gastrointestinal tract are altered by vitamin A-deficient diet. J Nutr Biochem. 2009 Jan;20(1):70-7.
(6) Lima AM, Soares AM, Lima NL, Mota RMS, Maciel BLL, Kvalsund MP, et al. Effects of vitamin A supplementation on intestinal barrier function, growth, total parasitic, and specific Giardia spp infections in Brazilian children: a prospective randomized, double-blind, placebo-controlled trial. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2010 Mar;50(3):309-15.
(7) Kong J, Zhang Z, Musch MW, Ning G, Sun J, Hart J, Bissonnette M, Li YC. Novel role of the vitamin D receptor in maintaining the integrity of the intestinal mucosal barrier. Am J Physiol Gastrointest Liver Physiol. 2008 Jan;294(1):G208-16.
(8) Plöger S, Stumpff F, Penner GB, Schulzke JD, Gäbel G, Martens H, et al. Microbial butyrate and its role for barrier function in the gastrointestinal tract. Ann N Y Acad Sci. 2012 Jul:1258:52-9.
(9) Pendyala S, Walker JM, Holt PR. A high-fat diet is associated with endotoxemia that originates from the gut. Gastroenterology. 2012 May;142(5):1100-1101.e2.
(10) Pachikian BD, Essaghir A, Demoulin JB, Catry E, Neyrinck AM, et al. Prebiotic approach alleviates hepatic steatosis: implication of fatty acid oxidative and cholesterol synthesis pathways. Mol Nutr Food Res. 2013 Feb;57(2):347-59.
(11) Rosenfeldt V, Benfeldt E, Valerius NH, Paerregaard A, Michaelsen KF. Effect of probiotics on gastrointestinal symptoms and small intestinal permeability in children with atopic dermatites. J Pediatr. 2004 Nov;145(5):612-6.
(12) Bischoff SC, Barbara G, Buurman W, Ockhuizen T, Schulzke JD, et al. Intestinal permeability – a new target for disease prevention and therapy. BMC Gastroenterol. 2014 Nov 18;14:189.
(13) Odenwald MA, Turner JR. Intestinal permeability defects: is it time to treat? Clin Gastroenterol Hepatol. 2013 Sep;11(9):1075-83.
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