Trombofilia na gravidez: o que é e quais os riscos para a gestação?
A gravidez é uma fase de intensas transformações no corpo…
Continuar lendoA gravidez é uma fase de intensas transformações no corpo da mulher, incluindo adaptações naturais no sistema de coagulação para reduzir o risco de hemorragias durante o parto. No entanto, em algumas mulheres, essas alterações podem aumentar os riscos de complicações devido a uma condição chamada trombofilia.
No contexto da saúde reprodutiva, a trombofilia não só eleva a chance de eventos tromboembólicos, como também pode afetar diretamente a saúde da mãe e do bebê. D Desde condições como pré-eclâmpsia até restrição do crescimento fetal, a identificação precoce dessa condição é essencial para um manejo adequado e para prevenir desfechos adversos.
Neste artigo, exploraremos o que é trombofilia, os riscos envolvidos durante a gestação e como ela pode ser monitorada e tratada para garantir uma gravidez mais segura.
Trombofilia é um grupo de distúrbios caracterizados por uma tendência aumentada à formação de coágulos sanguíneos (trombos), principalmente como consequência da interação de múltiplos fatores predisponentes hereditários e/ou adquiridos (1, 2). Esses coágulos podem obstruir o fluxo sanguíneo em veias ou artérias, resultando em complicações graves, como trombose venosa profunda (TVP), embolia pulmonar, trombose cerebral e até infarto (1).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a trombose é uma das principais causas de morte entre os problemas cardiovasculares, reforçando a importância de sua prevenção e manejo adequado.
A trombofilia pode ser classificada como hereditária ou adquirida, e sua manifestação clínica varia amplamente (2). Em alguns casos, a condição é assintomática até a idade adulta, enquanto em outros, pode levar a eventos tromboembólicos recorrentes antes dos 30 anos. Os coágulos podem surgir em locais comuns, como pernas e pulmões, ou em áreas incomuns, incluindo veias esplâncnicas, cerebrais e retinianas (1).
Embora muitos indivíduos com trombofilia nunca desenvolvam trombose, outros podem apresentar sintomas graves e recorrentes. Isso evidencia a complexidade dessa condição, que requer uma abordagem personalizada para diagnóstico e tratamento.
O sistema de coagulação, que normalmente mantém um equilíbrio entre fatores pró-coagulantes e anticoagulantes, pode ser alterado para um estado protrombótico, resultando em uma doença tromboembólica (3).
A complexidade clínica de compreender os mecanismos que levam a essa alteração – um estado caracterizado pela geração excessiva de trombina – é devido à interação entre vários fatores de coagulação e sua dinâmica com os vasos sanguíneos, células endoteliais, plaquetas e outras células presentes na circulação.
A trombofilia tem uma etiologia complexa e multifatorial, podendo ser tanto hereditária quanto adquirida. A presença de um defeito trombofílico é apenas um dos diversos fatores que influenciam o risco de desenvolver a condição.
O termo trombofilia hereditária tem sido mais comumente aplicado a condições nas quais a presença de mutações ou variantes genéticas afetam a quantidade ou função de uma proteína no sistema de coagulação.
As trombofilias hereditárias incluem um grupo de distúrbios genéticos, sendo os principais: a mutação do fator V de Leiden, a mutação do gene da protrombina (Fator II), a deficiência de antitrombina III, proteína C ou S, e a trombofilia relacionada à glicoproteína rica em histidina (4 – 6). Essas condições alteram o equilíbrio natural da coagulação, favorecendo a formação de coágulos.
Outros fatores genéticos incluem disfibrinogenemia, hiper-homocisteinemia, e variações em genes como F2 (variante G20210A) e F5 (variante G1691A), associados ao TEV (tromboembolismo venoso) , (11, 12).
Uma análise genética abrangente conduzida pelo grupo ThromboGenomics no Reino Unido demonstrou a eficácia do sequenciamento de nova geração para diagnosticar distúrbios trombóticos, identificando uma base genética em 48,9% dos casos (13). A presença de trombofilia hereditária, em combinação com fatores de risco adquiridos, sejam eles transitórios ou persistentes, pode levar ao TEV em idades mais jovens (14).
A trombofilia hereditária não apenas aumenta o risco relativo de uma primeira trombose, mas também pode agravar o risco em indivíduos com outros fatores predisponentes (15). No entanto, as causas genéticas não influenciam decisivamente o risco de recorrência trombótica (16).
A trombofilia adquirida refere-se à condição que pode surgir ao longo da vida, sem predisposição genética, e é caracteriza por alterações no sistema imunológico que levam à produção de anticorpos capazes de atacar as paredes dos vasos sanguíneos, aumentando o risco de trombose.
Esses distúrbios secundários incluem fatores que desequilibram o sistema de coagulação, como trombocitopenia induzida por heparina, síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF), neoplasias, uso de contraceptivos orais, obesidade, tabagismo e intervenções cirúrgicas (17).
Entre as possíveis causas de trombofilia, o uso de contraceptivos orais merece destaque. Esses medicamentos promovem alterações nas vias anticoagulantes e fibrinolíticas, aumentam os níveis de fatores pró-coagulantes e geram um desequilíbrio circulatório, contribuindo para o desenvolvimento de trombose.
Estima-se que mais de 100 milhões de mulheres utilizem contraceptivos orais, o que não só eleva o risco de tromboembolismo venoso, mas também o de trombose arterial em mulheres em idade reprodutiva. O risco é ainda maior em mulheres acima de 40 anos. A escolha adequada do método contraceptivo pode reduzir significativamente esse risco.
Outros fatores adquiridos que aumentam o risco de trombose incluem o uso de hormônios exógenos e tratamentos quimioterápicos (17).
A SAF, por exemplo, é um distúrbio autoimune associado a tromboses recorrentes. A gravidez, por sua vez, é um estado fisiológico pró-coagulante que também contribui para o aumento desse risco.
Embora os fatores adquiridos desempenhem papel relevante no desenvolvimento da trombose, a predisposição genética é considerada o fator de risco mais grave, sendo responsável por até 60% dos casos.
Muitas pessoas com trombofilia são assintomáticas até ocorrerem complicações, como a trombose.
Os principais sintomas de trombofilia podem incluir:
A trombofilia na gestação e no puerpério torna-se potencializada pelas próprias características pró-coagulantes dessas condições, e afetam aproximadamente 15% da população geral.
Durante a gravidez, as adaptações fisiológicas no corpo, na circulação sanguínea e no sistema de coagulação aumentam o risco de trombose. Esse risco é influenciado por diversos fatores (16):
Período anteparto: está relacionado ao índice de massa corporal (IMC), idade materna, número de partos e presença de varizes;
Pós-parto: eventos como parto prematuro, cesariana e hemorragia desempenham papel importante. Contudo, mulheres com trombofilia hereditária e histórico familiar positivo apresentam risco especialmente elevado para tromboembolismo venoso (TEV).
Entre as possíveis complicações obstétricas associadas a defeitos trombofílicos destacam-se a pré-eclâmpsia, frequentemente relacionada à deficiência de antitrombina ou proteína S, e o retardo do crescimento fetal, associado à mutação do fator V Leiden e a mutação no gene da protrombina (18).
Outras complicações gestacionais provocadas pela trombofilia representam cerca 75% das causas de morbidade e mortalidade neonatal, e podem ser descritas como:
Para essas pacientes, é fundamental uma avaliação detalhada do risco pessoal antes do início de qualquer medicação profilática contra eventos tromboembólicos, além de monitoramentos regulares durante a gravidez. O momento de início da profilaxia (como a 24ª semana de gestação ou antes), bem como a dose e a duração do tratamento, devem ser ajustados individualmente (16).
O monitoramento e o manejo adequados são essenciais para reduzir esses riscos. O acompanhamento dessas pacientes exige uma abordagem interdisciplinar, envolvendo ginecologistas, parteiras, anestesiologistas e hematologistas, tanto durante a gestação quanto no parto e no período pós-parto.
Essa colaboração é fortemente recomendada para garantir a segurança materno-fetal.
O diagnóstico clínico baseia-se na história clínica e familiar, exame físico, associado a exames laboratoriais e exames de imagem (1).
Exames genéticos são úteis para confirmar o diagnóstico, realizar diagnóstico diferencial, avaliar o risco de recorrência e diagnosticar casos assintomáticos em famílias com mutação conhecida, como por exemplo mutações nos genes do fator V de Leiden e da protrombina.
As variantes patogênicas podem incluir alterações de sentido (missense), sem sentido (nonsense), afetando o splicing, ou pequenas inserções/deleções. Grandes deleções/duplicações foram relatadas nos genes F5, SERPINC1, PROS1, PROC, F9, FGA e FGB.
Dentre os exames de trombofilia laboratoriais, podemos citar: avaliação dos níveis de proteínas C, S e antitrombina, avaliação de marcadores de SAF (Anticoagulante lúpico, anticardiolipina e beta-2-glicoproteína I) e dosagem de dímero D, para investigar trombose ativa.
O diagnóstico diferencial deve considerar as condições genéticas, bem como as causas secundárias de trombose.
A investigação de trombofilia não deve ser realizada apenas para determinar a duração da anticoagulação, mas também é útil para estimar o risco individual de recorrência de doença trombótica, a necessidade de profilaxia trombótica ou a decisão de prolongar a terapia anticoagulante (16).
A SYNLAB oferece o exame THROMBO InCode Avaliação genética da saúde reprodutiva, que avalia o risco de tromboembolismo venoso durante a gestação e o puerpério.
Esse exame consiste na análise de 12 variantes em 7 genes associados a um risco aumentado de desenvolvimento da trombose. O resultado é obtido por meio de um algoritmo matemático que possibilita a avaliação do risco da paciente de três maneiras:
Com isso, os profissionais têm em mãos uma análise completa das implicações genéticas no risco de trombofilia e, por sua vez, de perda gestacional recorrente.
O exame THROMBO InCode Avaliação genética da saúde reprodutiva é especialmente indicado para:
O tratamento da trombofilia varia de acordo com o tipo (hereditária ou adquirida), a presença de fatores de risco, histórico de eventos trombóticos e condições específicas, como a gravidez.
Nem todos os casos exigem tratamento. Em situações de trombofilia hereditária sem histórico de trombose ou fatores de risco adicionais, a abordagem pode ser apenas preventiva e de monitoramento.
As principais estratégias terapêuticas incluem:
É essencial que o tratamento seja personalizado e conduzido por um médico especialista. O uso inadequado de anticoagulantes pode causar efeitos adversos graves, como hemorragias, especialmente quando não há uma indicação clara para sua prescrição.
A realização de exames precisos e atualizados é essencial para diagnósticos mais assertivos e para o melhor direcionamento dos tratamentos. A SYNLAB está aqui para te ajudar.
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1) Dautaj A, Krasi G, Bushati V, Precone V, Gheza M, et al. Hereditary thrombophilia, Acta Biomed. 2019;90(10): 44-46.
2) Martinelli I, Bucciarelli P, Mannucci PM. Thrombotic risk factors: basic pathophysiology. Crit Care Med. 2010;38(2):S3–S9.
3) Lippi G, Franchini M. Pathogenesis of venous thromboembolism: when the cup runneth over. Semin Thromb Hemost. 2008;34(8):747–761.
4) Egeberg O. Inherited antithrombin deficiency causing thrombophilia. Thromb Diath Haemorrh. 1965;13:516–530.
5) Griffin JH, Evatt B, Zimmerman TS, Kleiss AJ, Wideman C. Deficiency of protein C in congenital thrombotic disease. J Clin Invest. 1981;68(5):1370–1373
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17) Heit JA. The epidemiology of venous thromboembolism in the community. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2008;28:370–372.
18) Larciprete G, Gioia S, Angelucci PA, Brosio F, Barbati G, Angelucci GP, Frigo MG, et al. Single inherited thrombophilias and adverse pregnancy outcomes. J Obstet Gynaecol Res. 2007;33(4):423–430.
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